
Por Jason
O movimento pelo sufrágio feminino foi um movimento social, político e econômico de reforma, com o objetivo de estender o sufrágio (o direito de votar) às mulheres. Participaram do sufrágio feminino, mulheres ou homens, denominados sufragistas. O filme Sufragistas nos transporta para a Londres de 1912, período no qual as mulheres não tinham direitos políticos básicos como o voto, não tinham direitos trabalhistas, direitos a guarda de filhos e viviam sob a necessidade de mostrar que eram tão capazes no trabalho quanto os homens. A maioria vivia submissa, era sexualmente, moralmente, psicologicamente assediada, em trabalhos degradantes e com baixa remuneração.
Nesse contexto, somos levados pela personagem fictícia Maud (Carey Mulligan) que diante de toda a humilhação que sofria e presenciava com as colegas de trabalho, resolve se juntar ao movimento acidentalmente. Maud trabalhava numa lavanderia, recebia menos que os homens, trabalhando mais do que eles. Ela e as outras mulheres tinham que se desdobrarem dentro de suas casas com seus maridos e com seus filhos. As condições de trabalho eram degradantes, com mulheres sempre doentes devido aos vapores e sofrendo por queimaduras em caldeiras. A mãe de Maud fora morta escaldada quando ela tinha quatro anos devido a uma dessas caldeiras e ela sequer havia conhecido o pai. Maud e outras mulheres acabam envolvidas com a causa, cansadas de tanto abuso, são espancadas pela polícia, perseguidas e presas enquanto realizam pequenos delitos e lutam contra o sistema opressor. Tamanho esforço resultaria no direito ao voto em 1928 (no Brasil, em 1932) e ainda hoje há absurdos como países como a Arábia Saudita, cujo voto feminino restrito foi conquistado apenas em 2015.
Ignorado pelas premiações como o Oscar, o filme tem boa reconstituição de época. Sufragistas tem o mérito de reconstituir uma parte importante da história humana - e revoltante, diga-se de passagem. Não há como sair ileso às cenas de maus tratos que as personagens sofrem. Há os clichês, há quem diga que o filme pode apelar para as cenas de violência contra as mulheres, mas o fato é que o foco do filme não é apenas o direito ao voto. É uma forma que a direção e o roteiro encontraram de gritar para o espectador a importância da união e da solidariedade, da liberdade e da igualdade de gêneros. Interessante perceber, por exemplo, como a sociedade ainda se mantém opressora como no começo do século passado: troque o grupo de mulheres por outro grupo de minoria como os homossexuais e se tem uma noção do panorama da situação atual. O tempo passou, mas a humanidade não evoluiu.
Porém, não há como sair ileso também da falta de carisma e atuação irregular de Carey Mulligan. O filme era um trabalho para alguém de maior calibre e domínio de cena como Kate Winslet ou Cate Blanchett. Em momentos em que poderia emocionar, como o depoimento em que relata o que houve com sua mãe, Carey não consegue desaparecer no papel. Em uma cena quando está para perder o filho para adoção, que o pai se apressou em despachar, Carey faz cara feia mas não passa emoção. Prejudica também o excesso de dramas, atirados no espectador tudo ao mesmo tempo sem que ele tenha nem condições de sentir - a coadjuvante aparece grávida de repente, sem condições de criar o filho que já tem, mas o fato some do roteiro em determinado momento sem que se tenha notícias; poucos minutos depois o filho de Maud é tirado dela por um casal e some, entra em cena uma coadjuvante e ela morre pela causa para chamar atenção para o mundo - ponto onde o filme termina, já que sua morte chamaria a atenção do mundo todo. O filme traz ainda Helena Bonham Carter, em participação eficiente e boa caracterização, Meryl Streep desperdiçada como participação de luxo em uma personagem real (Emmeline Pankhurst, líder do movimento), Ben Whishaw - que no filme interpreta o marido de Maud, sem ter muito o que fazer -, e Brendan Gleeson, em papel menos ingrato do que no filme No coração do mar, mas ainda assim unidimensional. Vale, contudo, dar uma conferida.
Cotação: 3/5