
Por Jason
Connor (Lewis MacDougall), de treze anos, é um garoto introspectivo, que sofre bullying na escola. O garoto é muito ligado a sua mãe Lizzie (Felicity Jones) que está em fase terminal com câncer. Como se não bastasse a tragédia que se desenha em sua vida, o menino tem um pai ausente (Toby Kebbell) e sua avó, com quem precisa viver (Sigourney Weaver), não parece aos olhos da criança ser uma pessoa agradável. Numa noite, Connor sonha que uma árvore gigante ganhou vida e foi visitá-lo, sugerindo que contará três histórias para ele, sendo que a quarta é Connor quem deverá contar.
A partir daí, a árvore (que tem voz de Liam Neeson) aparece quase sempre sete minutos depois da meia-noite. A primeira história acaba tratando de uma metáfora sobre a visão distorcida e preconceituosa que o personagem tem das pessoas. A segunda trata de um homem que pensava em si mesmo e se recusava a mudar, cujas consequências se tornaram desastrosas - e se tornam desastrosas também na vida real para Connor. A terceira é sobre um homem que cansou de não ser visto porque as pessoas se acostumaram a não vê-lo, até que ele não suportou mais. Logo, o roteiro usa a figura do monstro para representar todo aquele festival de sentimentos conflituosos pelo qual o menino está passando e fazer com que a interação com a criatura seja a sua fuga da realidade.
A trama do filme trata assim do complicado sentimento de deixar ir embora um ente querido, principalmente em se tratando de uma criança em uma fase de transição como o menino, "nem tão jovem quanto uma criança, nem tão velho quanto quanto um adulto". Nesse sentido, o filme é feliz no drama real psicológico do personagem, já que a criança se encontra em fase de negação e de raiva, criando uma defesa psíquica, se recusando a falar sobre o assunto, guardando a angústia para si e mentindo para si mesmo sobre uma situação que é evidente (ela vai morrer, é uma questão de tempo), na mesma medida que passa a extrapolar sua raiva contra o mundo (em duas cenas chaves, o menino quebra todo o cômodo da casa da avó e revida todo o bullying que sofria na escola mandando o agressor para o hospital). É interessante notar que o diretor Juan Antonio Bayona já tinha mostrado seu potencial de horror em O orfanato e sua capacidade no uso de efeitos especiais e entretenimento aliado ao drama familiar no ótimo O impossível. Aqui, apoiado no roteiro do autor do romance no qual o filme se baseia, ele mistura tudo - a sequência de surgimento da árvore é o cineasta do horror querendo surgir -, usando os efeitos a serviço de uma boa história que transita entre esse drama real e a fantasia.
Do elenco, Sigourney Weaver e Felicity Jones se saem melhor. Apesar de não ter muito tempo de tela e aprofundar melhor seu personagem, Weaver surge bem, tentando dar um choque de realidade no menino, que vai ter que aprender a se virar sozinho depois que a mãe morrer - e que se tornou uma mulher amarga porque não soube lidar com a perda de seu marido (note que em uma das cenas, Lizzie explica que a mãe era muito melhor quando o avô estava vivo). Ela é incapaz de perceber o que está acontecendo com o menino até um momento chave no filme. Jones, por sua vez, opta por seu retrato mais contido de quem está partindo e insiste em poupar a criança de um maior sofrimento. Toby Kebbell não convence e ao menino Lewis, com seu aspecto estranho, resta apenas se esforçar para comover no papel da criança que não tem apoio adequado e não sabe lidar com o festival de emoções que está passando.
Se a parte do drama escorrega mais para o final, quando apela para a clicheria e choradeira, a parte da fantasia está bem servida - a árvore é bem crível e expressiva, uma figura que transita entre o provocar medo quando enche os olhos de fogo e de raiva e um fascínio quase infantil. Bayona está escalado para a continuação de Guerra Mundial Z e de Jurassic World, dois filmes a serem sustentados por toneladas de pixels digitais em efeitos especiais. Se vierem acompanhados de drama na medida certa, que venham, então, mais monstros.
Cotação: 3,5/5