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A vigilante do amanhã - 2017

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Por Jason


A vigilante do amanhãé o filme que adapta para as telonas o mangá Ghost in the shell de 1989, que seis anos mais tarde ganhou uma versão anime cultuada. Seu sucesso se espalhou por diversas mídias, incluindo vídeo game, mas, proeza das proezas, a obra rendeu este que é provavelmente um dos maiores e merecidos fracassos do ano - que é impressionante, uma vez que o material tinha potencial para fazer uma ficção dessas inesquecíveis a ponto de se tornarem clássicas. 

Na trama, num futuro próximo, a maior parte dos seres humanos possui implantes cibernéticos, aprimorando várias características como visão, força e inteligência. A Hanka Robotics, a empresa líder mundial em tecnologia de implantes, toca um projeto secreto para desenvolver um corpo mecânico – ou "casulo"– capaz de dar suporte a um cérebro humano. Uma jovem chamada Mira Killian (Scarlett Johansson), a única sobrevivente de um ataque ciberterrorista, é escolhida para o teste após seu corpo ter sido destruído, tendo seu cérebro implantado no corpo robótico. Contra a vontade da cientista responsável, a Dra. Ouelet (Juliette Binoche), o CEO da Hanka, Cutter (Peter Ferdinando), decide treinar Mira como um soldado.

Um ano depois, Mira alcançou o posto de Major no Setor 9, um departamento antiterrorista, e trabalha junto com Batou (Pilou Asbæk) e Togusa (Ng Chin Han) sob o comando do chefe Daisuke Aramaki (Takeshi Kitano). O time consegue conter um ataque terrorista numa conferência da Hanka, e Mira destrói uma gueixa mecânica que foi crackeada e matou um dos reféns. Mira, que vem tendo alucinações que Ouelet considera bugs, vai ficando chateada por lembrar tão pouco sobre seu passado. Após descobrir que a gueixa foi crackeada por um indivíduo chamado Kuze (Michael Pitt), Mira quebra o protocolo e "mergulha" na memória da gueixa à procura de respostas. O que ela encontrará lá pode significar seu fim ou um novo começo.

O filme estreou debaixo de polêmica a respeito da substituição da personagem original, de origem asiática, pela atriz Scarlett Johansson desde que foi anunciada, fato que o roteiro tenta explicar na tentativa de diminuir o estrago. O que mais assusta, porém, é o fato de que esse é o menor dos problemas da produção. A obra original já não era lá um exemplo de originalidade, trazendo uma soma de ideias vistas em outras obras (Blade Runner, 1982 e Robocop, 1987, dentre outros). A estética chupada de Blade Runner, aliás, é o ponto forte do filme. A cidade não é a Los Angeles chuvosa do filme de Scott, mas ainda parece uma babel futurista, com diversas etnias misturadas, em que tecnologias atuais como hologramas disputam espaço com tecnologias mecânicas de aparências ultrapassadas. Enquanto os aparelhos que criam Major são novos de última geração e os ambientes da Hanka assépticos, os automóveis parecem datados e as ruas entulhadas de becos de aparência suja. Esse contraste e a competência da direção de arte, alinhado ao fato de que estamos em uma produção milionária recheada de bons efeitos visuais, segura o filme. O diretor Rupert Sanders já tinha demonstrado apuro estético em Branca de Neve e o Caçador, mas assim como em seu filme anterior aqui ele demonstra ausência de nota autoral e direção frouxa: ele é incapaz de ir além de um conceito visual. 

O roteiro tenta dar corpo ao dilema da personagem na procura por sua verdadeira identidade, na busca por respostas sobre o seu passado e sobre a verdade da sua criação. Tenta também levantar a questão sobre o que é real ou não, e humanizar a personagem - nada mais óbvio do que a figura materna de Binoche em cena e seu sacrifício e apego por Major. Mas o espectador vai percebendo que algo já foi melhor trabalhado na busca por um prazo maior de vida com os replicantes de Blade Runner (de novo) ou o dilema entre ser humano ou máquina de Robocop (mais uma vez). Mais ainda, na dúvida sobre o que é fazer parte de um mundo real que as irmãs Wachowski tanto souberam sintetizar num dos filhos de Ghost in the shell, o brilhante Matrix. O resultado é um conjunto técnico apurado mas vazio e sem alma.

Scarlet tenta segurar as pontas mas parece amarrada tentando achar o tom certo. Michael Pitt é bom, mas não tem muito o que fazer. Binoche é uma grata presença mas está ali pelo cheque, o vilão é terrível e suas motivações ridículas - o resto do elenco é qualquer nota. Mesmo reconstruindo algumas cenas do anime com precisão, após a sequência da gueixa o filme despenca em falta de ritmo. Falta estofo dramático para o roteiro, o drama da personagem é entregue de mão beijada para o espectador, não há o que ele concluir já que é tudo dado de forma mastigada e tudo resolvido de maneira rápida ao final (o que foi aquela sequência de encontro da mãe da personagem, completamente fora do tom dentro da trama?). Sequências de ação não impressionam e passam rapidamente, a trilha sonora como se não bastasse é desastrosa e não marca e, para variar, no momento em que o filme pede, ela desaparece. Em resumo, é um filme bonitinho - mas ordinário que só.

Cotação: 1/5

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