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Poltergeist - 2015

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Por Jason

Os problemas do remake de Poltergeist aparecem logo no começo do filme e as falhas, terríveis, são fáceis de serem percebidas. No original produzido por Spielberg e dirigido por Tobe Hopper em 1982, hoje já um clássico, somos apresentados a uma família comum norte americana cuja filha mais nova é raptada por espíritos. A casa em que foram morar fora construída sobre um cemitério antigo e as lápides removidas para outro lugar, sem os corpos. A meiga Carol Anne vai para a outra dimensão, sua família vai buscar ajuda em uma especialista para resgatá-la e juntos, com amor e união, conseguem vencer o mal - tudo, claro, aliado a efeitos de primeira classe para a época, nada mais Spielberguiano. 

Spielberg, um dos autores do roteiro, lançou também sua metáfora sobre a alienação midiática na forma da tv que engoliu uma criança, desconstruindo e abalando a imagem de família perfeita que vemos na tela quando espíritos malignos resolvem usar a menina para saírem da escuridão. O Poltergeist original trazia uma narrativa que, pouco a pouco, conquistava o espectador ao invadir a casa da família, mostrando seu dia a dia, sua intimidade, sua dinâmica e o relacionamento dos pais com seus filhos. Lentamente, os espíritos seduziam o veículo de luz pelo qual pretendiam escapar para o nosso mundo, e o tom cômico ia dando lugar a algo sombrio, passando tensão e medo, até estourar em pânico. É gratificante ver que os efeitos especiais do original envelheceram sim, mas o ritmo e a narrativa não, o selo de Spielberg se mantém intacto e a trilha sonora de Jerry Goldsmith é quase atemporal de tão tenebrosa. Poltergeist acabou ditando as regras desse gênero de filme - Invocação do Mal, Sobrenatural estão aí para comprovar - uma fórmula batida mas que ainda dá e muito certo. O que, por incrível que possa parecer, não é o caso desse remake.

No filme, uma família nem bem chegou a casa nova, não sabemos quem são e nem nos importamos com eles, mas as crianças já estão vendo coisas e tendo experiências sobrenaturais com um armário e uma televisão. O patriarca está desempregado e a mãe é uma escritora fracassada. Mas, espere um pouco, esqueça esse plot, ele não servirá para nada dentro da trama... A menina Maddy é atraída para o armário por espíritos perturbados e, após sumir, os pais decidem que o melhor não é chamar a polícia, mas o departamento de casos sobrenaturais que, por sua vez, convida um pilantra que apresenta casos na televisão em que "limpa" casas infestadas de espíritos - mas que realmente sabe o que fazer nesse caso e está decidido a ajudar. 

Sai a simpática médium Tangina, e a experiente em paranormalidade Dra Lesh do original, e entra uma equipe descartável para ajudar na situação - tão inútil que o espectador pouco se importa em gravar seus nomes (a coadjuvante negra quase não abre a boca). Se o casal Sam Rockwell e Rosemarie DeWitt são péssimos em cena e não possuem química alguma, como se estivessem perdidos e sem nenhuma direção de atores, com as crianças não é diferente - o casal de crianças não tem nenhuma naturalidade e soam o tempo todo forçadas. A adolescente mais velha é pior, uma inútil que para nada serve na trama, ecos do original talvez. Sem um roteiro que preste, que desenvolva tais personagens, sem atores comprometidos que comprem a ideia do filme, sem uma direção digna de nota capaz de criar alguma atmosfera e um ritmo crescente, chegar ao final se torna um martírio. Não é culpa do original, portanto.

Para complicar, há a buraqueira. O menino Griffin, que tem medo de escuro e de dormir no quarto sozinho, não consegue nem olhar para a janela numa noite de chuva, mas quando no seu quarto um barulho estranho pipoca num armário ele prontamente se levanta e vai verificar o que é. Ao encontrá-lo pendurado na árvore que o arrastou e o espancou, os pais parecem até agir com naturalidade absurda mais preocupados com a filha mais nova - a adolescente, que quase é sugada no porão, parece não se importar com o que houve e é incapaz de expressar algum horror com tudo isso. Como os pais são muito preocupados e atenciosos com seus filhos deixam o menino Griffin entrar no vácuo espiritual para socorrer a irmã porque "ele se sente culpado pelo que aconteceu" (!) 

Enquanto o filme de 1982 escondia ao máximo a tal dimensão e liberava a imaginação e curiosidade do espectador aflito, aqui ela é explicada como 2 + 2 = 4 em um diálogo expositivo breguissimo, uma afronta ao peso emocional colocado pela atriz Beatrice Straight quando ela explica ao irmão de Carol Anne como os espíritos se comportam, numa cena inesquecível do original. Falta também uma cena de impacto como a da piscina de cadáveres, que o diretor tenta compensar expondo o lado espiritual sem nenhum cuidado em cenas de computação vagabunda e imagens captadas por um drone (!) que penetrou o mundo dos encapetados perturbados para fazer um tipo de BBB espiritual. Não, chega. Melhor voltarmos ao clássico então porque, velho ou não, ele ainda continua imbatível.

Cotação: 0/5

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