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Steve Jobs - 2015

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Por Jason


Steve Jobs já começa levantando uma questão no passado: a dependência em torno de um objeto que será no futuro tão importante quanto um telefone - o computador. O filme avança para a década de 80 com Steve Jobs (Michael Fassbender) no lançamento do Mancitosh, quebrando a cabeça com Joanna Hoffman (Kate Winslet), diretora de marketing, já que há problemas não solucionados na apresentação e, como Joanna claramente expressa, a previsão de vendas não é compatível com os valores cobrados pelo Mac, duas vezes mais caro. Enquanto a apresentação está para começar os dois estão batendo boca nos bastidores tentando encontrar soluções para coisas absurdas, como uma capa da Time com um computador que não é o Mac, o fato do computador não estar pronto para dizer OLÁ como Steve quer, e a presença da filha que ele renega como sendo sua enquanto ganha 441 milhões de dólares e paga 385 dólares de pensão para ela morar num barraco. A Apple, naquele momento, vinha do sucesso Apple II, um computador bem sucedido no mercado, mas de dois fracassos (o LISA e o Apple III).

Esse começo já dá uma ideia da personalidade difícil de Steve Jobs, co-fundador, presidente e diretor executivo da Apple. Teimoso, arrogante, persistente, orgulhoso, agressivo, egocêntrico, mal educado, o filme tenta mostrar o homem - igualmente genial, excessivamente racional e complicado, humano e cheio de falhas - por detrás de seus feitos extraordinários que revolucionariam a indústria de computadores pessoais, filmes de animação, música, telefones, tablets e publicações digitais ao longo dos anos. Como saberemos, o Macintosh foi um fracasso de vendas, projetado para vender um milhão, o computador encalhou nas vendas, vendendo 35 mil produtos porque não era compatível com a maioria dos hardwares e softwares disponíveis até aquele momento. Tinha baixa potência, era lento, não tinha disco rígido e possuía pouca memória RAM. 

Jobs seria demitido da empresa em 1985 por John Sculley, CEO que ele ajudou a colocar na empresa. Além do lançamento do Macintosh, o filme retrata outro, o da NeXT, então nova empresa de Jobs (1988) que foi comprada pela Apple. A NeXT foi um fracasso, mas a Apple precisava de um sistema operacional novo e a solução encontrada foi levar a NeXT e Steve Jobs de volta. Não por acaso, em mais uma apresentação complicada e cheia de problemas - o PC que ele ia apresentar não tinha sequer um sistema operacional e custava uma fortuna, sendo destinado a escolas que não tinham como pagar por elas -, lá estava Joanna peitando Steve e se desdobrando para atender a imprensa, amenizar a personalidade compressora e tentando resolver os problemas pessoais de Jobs. Por fim, num terceiro ato, o espectador acompanha a chegada do iMac G3 (1998), um projeto avançado, futurista e bonito. O iMac salvou a empresa Apple da falência, a esta altura com ações compradas pela Microsoft, se tornando finalmente um sucesso de vendas. Mas, ainda em paralelo, Steve mantinha sua vida pessoal turbulenta, sem dar apoio a sua filha e fazendo seu papel de péssimo pai.

A cinebiografia da carreira de Jobs nesses três momentos importantes é ágil, tem uma montagem rápida, idas e vindas no tempo, e direção eficiente de Danny Boyle (Quem quer ser um milionário). E está indicado aos Oscar de Melhor Ator (Fassbender) e Melhor Atriz Coadjuvante (Winslet) merecidamente. Mas é aloprado por uma sobrecarga de diálogos rápidos e carente de estofo dramático nos dois primeiros atos, que atropela até a presença de Jeff Bridges, o CEO da Apple John Sculley, motivo pelo qual Jobs foi afastado e que afundou a empresa por não buscar inovações e nem injetar criatividade para o mercado. Outro ainda mais prejudicado é Seth Rogen, como Steve Wozniak, que busca um reconhecimento que Jobs não está disposto a lhe dar (e fica por isso mesmo). À fraca Katherine Waterston, contratada para o elenco da continuação de Prometheus, só resta chorar no papel de Chrisann Brennan pedindo dinheiro como a mãe da filha de Jobs.

O roteiro, ignorado nas indicações do Oscar, tenta balancear sequências dramáticas no terceiro ato, em que, mais uma vez, lá está Joanna, enfrentando Steve e tentando fazê-lo consertar sua vida pessoal por não suportar mais ser testemunha do descaso dele com a filha - enquanto se desdobra em paralelo para organizar mais uma apresentação. Nesse sentido, quem sobra na tela não é Fassbender, em performance regular e competente, mas sim Kate Winslet, que rouba quase todas as cenas, em especial uma em que se aflige para que Jobs se ajeite com a filha. Como Joanna Hoffman, nascida na Polônia, Winslet mimetiza o personagem, seja no seu sotaque e sua voz que oscila no timbre (note que no segundo ato, quando ela está "mais velha", sua voz está mais esganiçada). Não a toa premiada com um Globo de Ouro e forte concorrente na categoria no Oscar, toda vez que Winslet sai de cena algo se perde no filme.  Hoffman não é uma personagem do tipo que abaixa a cabeça para Jobs, ela expõe o que pensa, quer ele goste ou não; é durona - mas capaz de se comover com a situação da menina. É uma relação tumultuada com o patrão, do tipo bate e rebate, mas ao mesmo tempo de respeito e de sarcasmo - e é, ao final das contas, a emoção por trás da racionalidade de Jobs. O filme prova que não é preciso muita coisa para se fazer uma biografia no mínimo interessante - basta o compromisso e o talento de uma equipe afiada. Vale a pena conferir. 

Cotação: 3,5/5

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