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Sinais - 2002

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Por Jason

Sinais conta a história de uma família que mora em uma fazenda de milho do interior dos Estados Unidos (mais precisamente na Pensilvânia) e que tenta se proteger de uma invasão alienígena. O pai, Graham Hess (Mel Gibson), é ex pastor que perdeu sua fé e abandonou o ministério após sua esposa morrer atropelada por um motorista adormecido ao volante (interpretado pelo próprio diretor do filme, M. Night Shyamalan). Ele mora com seu irmão Merril (Joaquin Phoenix), ex-jogador da liga amadora de beisebol; e seus filhos Morgan (Rory Culkin), que sofre de asma; e Bo (Abigail Breslin), que espalha copos d'água pela casa por nunca bebê-los até o fim.

O filme é claramente dividido em três partes, sendo as duas primeiras no estabelecimento do mistério que atordoa a família do ex pastor Hess. Num belo dia seu casal de filhos acorda e descobre que a plantação de milho no fundo de sua casa está marcada. Céticos, ele e a policial do local acredita que foram meninos da região, querendo pregar uma peça. Acontece que os animais da redondeza estão agitados, incluindo os próprios cães da família. Durante uma noite, Merril percebe que não se trata de uma peça, mas de algo que não é humano e está invadindo a propriedade.

Na segunda fase, a invasão alien acontece, reportada pela televisão, que o roteiro em subtexto a critica como veículo de alienação - o próprio Merril fala do medo que ele tem de que as crianças se tornem obcecadas pelo assunto, quando ele mesmo está se tornando obcecado escondendo a televisão para assisti-la. Hess tem contato com o assassino da sua mulher, que confessa o que aconteceu e pede desculpas, avisando que conseguiu capturar um dos invasores ao trancá-lo na dispensa. O filme entrega alguns sustos e algumas cenas marcantes, como a do milharal, em que Gibson fica próximo da criatura; a sequência em que ele vê a criatura no telhado de casa e aquela em que acontece em Passo Fundo, no Brasil, quando é possível finalmente ver o vulto da criatura. Mas é aqui, quando entra na terceira parte, que a coisa degringola.

Não é possível entender as atitudes de Hess, que, ao invés de chamar a polícia, o exército, ou o que quer que seja para pegar a coisa trancada na dispensa, simplesmente retorna para a casa depois de ter contato com o bicho e cortar os seus dedos - provavelmente por ignorância, Hess não sabe que ET bom é ET morto. Mesmo com a indicação que as criaturas odeiam água - mesmo com aparência reptiliana, elas devem se limpar a vácuo e feder mais do que o Cascão, mas isso é ignorado pelo filme... - Hess não tira sua família de casa, decide fazer uma votação e com pena das crianças, porque ali "há memórias da mãe falecida", decide ficar e se tornar o pai do ano, ameaçando a segurança das duas. Vem o ápice e o espectador, envolvido com o terceiro ato, descobre que os ETs, burrissimos, são capazes de construírem naves espaciais interplanetárias mas não conseguem arrombar uma porta e não conhecem sequer o poder de um disruptor de partículas para vaporizar os humanos.

Pior: enquanto estamos acompanhando a invasão a casa, Hess dá aquela paradinha para contar como os filhos nasceram - não que isso importe, obviamente - e, ao final, é surpreendido pela criatura que ele feriu. O ET, genérico, em péssima computação gráfica, não é só o motivo pelo qual o filme afunda no final. Os filmes de Shyamalan sempre têm uma espécie de reviravolta surpreendente próximo de encerrarem. Mas é justamente o corte brusco da direção, em fazer algum tipo de sentido e conexão entre todos os acontecimentos, que faz com que o roteiro atire no pé. Ao retornar para o momento em que Hess perdeu sua mulher e levar uns dez minutos naquela enrolação, com aquele ET retardado segurando a criança, o diretor atira uma pá de cal naquilo que ele acabara de construir e presenteia o espectador com um fraco encerramento.

De atuações, não dá para se esperar muito de Mel Gibson, mas é Joaquim que aparece apagado fazendo cara de idiota o tempo todo. Personagens somem - para onde foi a policial cética, foi sequestrada por ETs? Passados quase 15 anos do lançamento de Sinais, é intrigante ver como um cineasta como Shyamalan foi de uma carreira promissora de filmes sólidos,para o fracasso em filmes medíocres em tão pouco tempo. Sinais foi um sucesso, menor que Sexto Sentido é verdade, mas ainda assim um sucesso comercial principalmente nos EUA. Ao custo de 72 milhões, o filme arrecadou 400 milhões no mundo, sendo 228 milhoes só no mercado norte americano. Depois de Sexto Sentido, Corpo Fechado e Sinais, o último ápice, ele entregou o já esquecido A Vila e foi daí para baixo, com os desastres A dama na água, Fim dos Tempos, O ultimo meste do ar, Demonio e Depois da Terra, cada um pior do que o outro. Como uma fraude, agora foi fazer hora extra na TV.

Sem que conseguisse solidificar sua carreira a ponto de se tornar inabalável a um único fracasso, Shayamalan acabou fazendo de Sinais um preludio do destino que não só sua carreira tomaria, mas a de outras também, como a de Mel Gibson, banido de Hollywood depois do envolvimento em polêmicas, e a do então criança Rory Culkin, o irmão de Macaulay Culkin (Esqueceram de Mim) cuja família parece sofrer de alguma maldição. Isenta passou Abigail Breslin, em seu primeiro filme, então com cinco anos de idade, que depois receberia uma indicação ao Oscar por Pequena Miss Sunshine - e mesmo depois de perder a naturalidade com que atuava, conseguiu fazer a transição para a adolescência e sustentar uma carreira fazendo diversos filmes e produções para cinema e televisão. Melhor previsão de tudo isso faria a Variety na época do lançamento do filme, afirmando que o filme tinha pouca originalidade e especulando se a persistência de Shyamalan em replicar a formula de O sexto sentido não seria um exercício auto destrutivo em sua carreira. Como todos sabemos, eles estavam certos.

Cotação: 3/5


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